Depressão Mascarada
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a Depressão, em suas diversas formas, é uma doença que acomete cerca de 3% da população anualmente. Este percentual tende a aumentar na medida em que o maior conhecimento da doença, técnicas mais eficazes de diagnóstico e o acesso ao tratamento são descobertos. A luta, a concorrência, o stress e o isolamento característicos do homem atual, a automação técnica, a despersonalização do trabalho; tudo isto acrescido a (ou originado de) um materialismo crescente com desprezo progressivo das forças e valores espirituais e comunitários, criam um indivíduo amputado de si mesmo e inadaptado às contingências do meio.
A possibilidade de diagnosticar a Depressão, muitas vezes não é uma tarefa simples. A sintomatologia pode estar mascarada por tantas outras queixas, inclusive somáticas, que pouco dizem do estado Depressivo real motivador destes sintomas.
As queixas que levam o paciente ao médico podem ser múltiplas, e após inúmeros exames, nada é encontrado que possa sugerir uma patologia orgânica. É o que chamamos de Depressão Mascarada.
"Os clínicos gerais atendem a uma gama muito grande de pacientes, desde aqueles que precisam de uma consulta de rotina àqueles com doenças crônicas e deficiências", disse o autor Dr. Lawrence Wu. "Nós conhecemos os sintomas tradicionais da ansiedade e depressão – choro, fadiga, desesperança – mas não são todos os pacientes que os tem ou relatam às suas famílias. Ainda, alguns sintomas como a fadiga, pode ser um sintoma de depressão ou doença cardíaca, então se torna difícil o isolamento dos sintomas e do diagnóstico correto".
De acordo com estudo publicado pelo 'Journal of the American Board of Family Practice', pacientes que relatam ter saúde frágil e com altas incidências de dor têm maior probabilidade de apresentar depressão que outros pacientes na clínica geral. Os pesquisadores acreditam que esse dado pode ajudar a melhorar o diagnóstico e o tratamento da depressão pelos médicos de família. Dr. P. Murali Doraiswamy, psiquiatra da Duke e co- autor do estudo disse, "O que tem sido mais relevante é que a depressão e a ansiedade podem freqüentemente se apresentar apenas através de dor ou sintomas físicos debilitantes. A falha no tratamento desse tipo de sintoma pode significar uma chance reduzida de recuperação total."
Seria uma forma de Somatização Depressiva onde, apesar de se tratar de uma Depressão, os sintomas vêm mascarados sob forma de queixas orgânicas.
A forma (a máscara) é orgânica, mas o conteúdo (a causa) é a Depressão.
Nossa sociedade aceita mais uma patologia orgânica do que uma psíquica, talvez sendo então este o motivo de a Depressão apelar para estas máscaras.
As formas orgânicas que mais freqüentemente mascaram uma Depressão são as seguintes:
Cefaléias difusas, acompanhadas de uma mal estar geral que normalmente se manifestam juntas com um componente ansioso e fóbico manifestos, como medo de um tumor cerebral, medo da morte, etc.
Dores difusas, parestesias, nevralgias faciais, lombalgias, braquialgias. Estes sintomas se apresentam associados à ansiedade, à fadiga, hipersensibilidade aos estímulos ambientais e freqüentemente eles se alternam, variando inclusive sua intensidade durante o dia.
Ansiedade das tíbias ou parestesias agitantes noturnas.
Algumas formas de anorexia periódica.
Algumas Síndromes Psicossomáticas que por sua característica não reativa e sua evolução fásica são de fato máscaras depressivas e respondem bem ao tratamento com antidepressivos e Psicoterápico específico para Depressão. Dentre estas as mais comuns são:
Do Aparelho Digestivo – náuseas, vômitos, dores, acidez, meteorismo, anorexia, bulimia, colite ulcerativa
Do Aparelho Cardio - Circulatório – taquicardia, palpitações, dores pré-cordiais, extra sístoles
Do Aparelho Respiratório – dispnéia, asma, etc.
Doenças Reumatológicas em geral.
Distúrbios Dermatológicos em geral.
Além de uma Máscara Somática, a Depressão pode assumir também uma máscara Psíquica sendo também a causa real de diversos casos de agressividade, alcoolismo, toxicomanias etc.
A toxicomania crônica ou episódica, por exemplo, muitas vezes mascaram um estado depressivo subjacente e não raro é acontecer que o Alcoólatra, fora de seu estado de intoxicação, passe ao ato suicida. Menos evidente é quando o paciente, já com um déficit orgânico pronunciado, faça da permanência no uso da toxicomania um equivalente ao suicídio.
Por vezes é muito difícil diagnosticar uma Depressão atrás de uma sintomatologia somática. Infelizmente, este diagnóstico muitas vezes apenas ocorre quando a sintomatologia tipicamente Depressiva eclode de forma dramática (como num ato suicida).
Pelas próprias características desta forma Depressiva, o paciente tende a procurar não um especialista, Psiquiatra ou Psicólogo, mas sim um cirurgião ou clínico, que muitas vezes pouca habilidade tem neste diagnóstico
Nossos médicos são pouco preparados para abordar o estado afetivo subjacente as queixas somáticas dos pacientes.
As vezes demora anos até que o tratamento correto seja dado a este paciente, que é submetido a todo tipo de exames, provas terapêuticas e até cirurgias inadequadas e ineficazes. Este massacre terapêutico ao qual o paciente é submetido, só vem a contribuir para o agravamento de seu estado Depressivo e no recrudescimento da convicção de estar padecendo de algum mal incurável.
Tratamento:
A conduta terapêutica nestes casos deve englobar os seguintes fatores:
Psicoterápico
Seja a Psicoterapia de Apoio ou em suas formas mais profundas, a Psicoterapia é fundamental no tratamento e na reforma interna do paciente.
Farmacológico
Clínico – no tratamento da sintomatologia somática dominante
No tratamento da depressão propriamente dita, através de antidepressivos mantidos mesmo após o desaparecimento dos sintomas somáticos, como também ansiolíticos, caso a Depressão apresente componentes de ansiedade.
Pela dificuldade diagnostica muitas vezes a hipótese de uma Depressão Mascarada só é confirmada pela reação do paciente ao emprego do antidepressivo.
Psic. Ana S. Botto