Medicação e Psicoterapia
Quando atuar ?
À medida em que a medicina evoluiu, abriram-se as bases fisiológicas para compreensão do comportamento humano e de suas emoções, avanços que vieram lançar luz sobre a dinâmica cerebral e a própria doença mental.
A descoberta dos neurotransmissores, como base para o desenvolvimento de antidepressivos cada vez mais específicos, a descoberta de fatores genéticos associados a diversas psicopatologias, a influência de determinadas proteínas atuando nas emoções, até mesmo o morfismo cerebral influenciando em padrões de comportamento.
Os fatos científicos se multiplicam e cada vez mais nos aproximamos de um mapeamento emocional a partir de exames diagnósticos, numa tentativa de quantificar os fenômenos psíquicos.
A psique deixa de ser uma imponderabilidade para algo aferível e manipulável.
Mas como interpretar os dados assim obtidos?
Cada vez mais chegamos à confirmação a nível molecular de como as emoções alteram e influenciam o fisiológico e como mudanças de padrões comportamentais podem ser aferidas por métodos tão objetivos.
Infelizmente alguns ramos da medicina cartesiana, com um padrão enraizado de tratar apenas os sintomas ponderáveis e não suas causas tentam atuar unicamente sobre este mapeamento emocional e não também sobre as condições que lhe deram origem.
Prescrevem indefinidamente psicofármacos, manipulando aquilo que é resultante de processos psicopatológicos inconscientes do indivíduo, criando um padrão farmaco-emocional ideal. A felicidade vendida nas farmácias, a superação dos bloqueios através de remédios, gerando de fato uma população de dependentes químicos impossibilitados de fazerem frente a verdadeira origem de seus problemas.
Como proceder?
Não estou formulando, contudo, uma atitude radicalmente contrária ao emprego dos psicofármacos. Ao contrário, tento encontrar a dosagem certa entre o emprego da psicoterapia (único método terapêutico verdadeiramente eficiente para a solução das disfunções emocionais) e da psicofarmacologia.
O padecimento emocional prolongado pode gerar alterações a nível fisiológico que estão tão amplamente hoje sendo estudados.
Os estados compulsivos, a depressão prolongada e tantas outras patologias, ao gerarem seus representantes fisiológicos, acabam por imprimir uma dificuldade maior à psicoterapia, impossibilitando ou retardando a obtenção de seus resultados. Nestes casos, o psicofármaco é necessário por um período determinado, sempre com o cuidado de se perceber que durante a administração dos mesmos, os conflitos emocionais estarão mascarados.
Nas psicopatologias onde as disfunções fisiológicas e genéticas são preponderantes como no Distúrbio Bipolar, nos estados Epilépticos, na Esquizofrenia e nas doenças Neurológicas, o trabalho psicoterapêutico deve realizar - se em paralelo ao medicamentoso, podendo este último perdurar até mesmo ao final da análise em estados emergenciais como na tentativa de suicídio, na Crise de Pânico, etc.
O emprego da medicação poderá acarretar numa perda ao nível da terapia. Uma perda por muitas vezes necessária, mas será um fator externo alienando o indivíduo da origem de seus padecimentos. Todo delírio, toda alucinação tem um sentido, são uma fala interna e os psicofármacos podem impossibilitar ou no mínimo dificultam esta escuta.
Apesar de "perda necessária" ela também é um ganho quando vemos alguns pacientes cujas crises os tornam inacessíveis aos processos analíticos, endurecidos em seus padecimentos, (em estados emergenciais, como na tentativa de suicídio, na Crise de Pânico, etc.), vindo os psicofármacos a flexibilizá-los o suficiente para suportarem a psicoterapia.
Psi. Ana S. Botto