CANCER - ANGÚSTIA E SILÊNCIO
Aquela mulher era querida por todos. Se alguém precisava de um apoio, conselho, companhia, sim, a Dona Maria tinha a resposta e a disponibilidade.
Amada por filhos, netos, parentes, um raro exemplo de unanimidade, alguém que todos imaginavam eterna.
Eis que Dona Maria é acometida por um câncer intestinal, que se foi generalizando, em pouco tempo os médicos reconheceram que os recursos a empregar eram o controle das dores e a espera da morte.
Bem, e aí? Como agiram Dona Maria, sua família e amigos? Desde o início da doença fez-se o silêncio. Vivia-se naquela casa como se tudo estivesse normal,
as dúvidas eram esclarecidas em particular com o médico e cada um chorava sozinho suas angústias. Dona Maria nem chorar podia, porque havia um “acompanhamento” silencioso, sempre alguém por perto, falando as coisas de sempre, como se nada estivesse acontecendo.
A PSICOONCOLOGIA
Em uma curva do caminho, encontram-se o paciente, seu câncer, sua família e o psicólogo.
Quando o paciente busca ajuda deste profissional, ou já houve o diagnóstico da doença e está sofrendo todo o abalo desta fase, ou está prestes a receber este diagnóstico. É uma situação de crise, ele não decidiu estar ali, ele foi colhido por uma doença que o assusta. Câncer, para ele, significa morte e ele está diante de suas limitações, de sua transitoriedade, de sua morte.
E está com muito medo.
Outra hipótese é ser a família a primeira sabedora da doença. Como contar ao parente querido, como agir? Novamente, conflito e medo.
Hoje, os recursos científicos transformaram o câncer em uma doença cada vez mais sob controle. O número de casos de cura, de melhora, de esperança da cura é tal que transformou o câncer em algo bem diferente do que se considerava antes, ou seja, uma sentença de morte.
Estes índices de cura ou de manutenção de um bom estado de espera por resultados, sejam quais forem, tornam a doença bem controlável, em seus vários estágios.
Para isto, as condições psicológicas do paciente e família precisam estar sob o controle da lógica, isto é, do consciente, para que todos, paciente, família e equipe de saúde ajam em conjunto, com um objetivo claro, reconhecido e discutido por todos
Entra aí a figura do psicólogo. Duas dimensões são buscadas neste profissional:
1) - teórica e técnica
2) - humana
Às vezes essas condições existem juntas, outras não.
O técnico que não tem a dimensão humana ficará à mercê de seu inconsciente. Poderá agir friamente, como se paciente e famílias não existissem em sua dimensão pessoal. Onipotente, disseminará impotência.
O profissional que tiver apenas o lado humano será o “bom amigo”, sofrerá com o paciente e família, mas freqüentemente não conseguirá ir além do lugar comum. Não poderá recorrer, por desconhecimento, do auxílio da teoria. E sua técnica será pobre. A ajuda humana também.
Profissionais especializados, remédios cada vez mais potentes, novas experiências científicas que se sucedem e complementam. Tudo nos leva a encarar com otimismo o presente e o futuro nesta área. E assim, casos como o de Dona Maria e seus familiares podem ser, também, cada vez mais raros.
Psicóloga Simone Mello Suruagy