Fui demitido e agora
Identidade e Trabalho
“Nossa vida está sujeita a constantes mudanças. O amanhã não será como hoje que em muito modificou o ontem.”
- Dra. me sinto um nada. Estou afundando em um grande poço. Perdi todos os meus planos. Minha única esperança é voltar a me empregar o mais breve possível.
Esse sentimento de tão profundo desespero ocorre com muitas pessoas que se viram frente a frente com o desemprego. Em nossa atualidade, definimos quem somos por nosso status profissional e perder esse vínculo é vivido como como uma ruptura do Eu.
Concorrendo com o luto da morte e do divórcio, essa é uma das maiores causas de depressão, em uma sociedade mercantil, que tanto valoriza a produtividade.
O trabalho se tornou uma grife que diz a que grupo social você pertence e o seu potencial de consumo. Uma identidade atrelada a produção, que não mais se fundamenta naquilo que é essencial e único no Ser.
- Olá, quem é você?
- Sou João, Engenheiro Agrônomo.
- Mas não perguntei sua profissão, quero saber quem é você.
João se sentiu muito desconfortável e a próxima resposta que vinha a sua mente era dizer onde trabalhava, mas sabia que, novamente, não estaria atendendo aquilo que estava sendo perguntado. Até concluir que de fato, não sabia o que dizer de si mesmo.
Já era então uma estátua marmorizada, que sugava sua identidade diariamente de seu trabalho e dormia no vazio. Repetia a cada dia, os rituais que o definiam. E João estava morto, mas só se deu conta disso quando perdeu seu emprego.
Uma máquina de reprodução e não criação. Se defendendo da angústia de que tudo muda, inclusive os interesses de seu empregador.
João revelou, quando foi demitido, a rigidez dos planos traçados para si mesmo, que assumiram uma força própria, superior a sua identidade. Um barco guiado pelo personagem que criou e não por sua persona.
Sem seu trabalho sentiu com se tivesse deixado de existir.
Uma ausência de reflexão quanto as próprias prioridades e a quem elas servem. Uma máquina excludente chamada mercado de trabalho, onde aqueles que não se enquadram, perdem sua autoestima e deprimem.
- João, você foi demitido de um serviço, que tal encontrarmos agora a sua vocação?
Psicanalista Ana Suruagy Botto