Discutir a Relação - A Separação e a Terapia de Casais
Hoje, as palavras “discutir a relação” estão em moda. Mas, como falar e fazer são coisas diferentes, vamos contar um caso.
Lucy e Mário, casados há oito anos, dois filhos de cinco e três anos, vivem uma fase de crise. Aliás, “fase” é um termo relativo, pois, desde o casamento, o casamento pode ser comparado ao descer de uma escada, com vários patamares (ou degraus) que os levaram a um progressivo distanciamento.
O que determinou cada mudança foi correlacionado (e quase previsível) com as mudanças de vida que ambos passaram desde o casamento.
Conheceram-se no trabalho. Eram ativos. Respeitados e admirados em tudo e por todos. Falavam a mesma língua e dividiam desafios, competição, sucesso. A voz geral era a de que “foram feitos um para o outro”. Assim continuaram até a primeira gravidez de Lucy, marcada por problemas de saúde que repercutiram na freqüência e importância do trabalho em sua vida.
Mário, por sua vez, continuava com os mesmos interesses: o trabalho tomava todo sou tempo, atenção, interesse, prazer.
O afastamento gradual entre os dois foi-se acentuando ao longo dos anos. O que antes era um diálogo fácil, foi transformando-se em silêncio e mágoa, sempre justificados por interesses pessoais não compartilhados. Pouco se falavam, carregavam suas mágoas como reforço para mais afastamento. Mário sentia-se só em casa, não conseguia penetrar no grupo fechado da mulher e filhos, não era comunicado dos problemas ou das alegrias de nenhum deles. As tentativas de aproximação sexual eram devolvidas com rejeição e silêncio. Lucy, que se afastara do trabalho por razões de saúde e deveres maternos, mudou o foco de interesses e justificava-se ao rejeitar o marido porque que ela própria se sentia rejeitada. Sim, pensava, Mário a esquecera, não colaborava e não merecia ser comunicado do que acontecia em casa. Assim, a forma menos dolorida de reagir à rejeição seria rejeitar também. O próximo passo foi a depressão, depois a raiva, que encontrou em Mário um alvo bem suscetível. Não conseguiam disfarçar o conflito conjugal e começaram a falar em separação. Os filhos eram usados como justificativa para desestimular a idéia.
Os amigos eram os confidentes. Alguns deles falaram as palavras mágicas: “Vocês precisam discutir a relação”. Mas como? Tentaram, é verdade, mas as brigas aumentaram com um ciclo comum: mais justificativas, mais acusações, mergulho no silêncio, mais mágoas e mais afastamento.
Bem, “discutir a relação” pode ser semelhante a duas pessoas que tocam com maestria instrumentos diferentes, executam melodias diferentes ao mesmo tempo e cada um acha que o outro está errado.
Precisam de um maestro que possa, com respeito por ambos, ajudá-los a compor e executar uma terceira melodia, coerente com os dois e na qual eles possam colaborar para unir toda potencialidade que têm. A terapia executa esta função de ajudar a compor uma nova vida.
Assim aconteceu com Lucy e Mário. Hoje, todos os elementos que antes estavam dispersos, juntaram-se dentro da possibilidade e potencial de cada um.
Nem todos os casais submetidos à terapia terminam como o citado acima. Alguns decidem que realmente preferem viver separados. A diferença é que se respeitam. Com isso os filhos não estão no centro da guerra que pode existir entre os pais; com isso, carregarão menos traumas para o futuro. E, caso existam novos cônjuges, estes não serão escolhidos por comparações inconscientes, ou seja, por serem iguais ou o oposto do anterior.
A energia humana é limitada. Por esta razão, quando a conduzimos para um conflito interminável, não sobrará espaço (energia) para tantas coisas necessárias. Prolongar o sofrimento pode alimentar sentimentos que serão autofágicos e que destruirão, além de nós mesmos, os que estiverem ao nosso redor. Sim, temos uma saída: reconduzir este potencial e permitir uma vida com mais plenitude e felicidade.
É esta a proposta da terapia de casais.
Psicóloga Simone Mello Suruagy