Escultura
Era uma vez um velho carro.
Carro velho, mas seguro,
bem conservado, confortável,
bom motor, bem regulado,
exigindo pouca manutenção.
Era respeitável, sereno,
inspirava confiança.
Enfim, aquele carro predestinado
a servir mais alguns anos
e ser vendido a um colecionador.
Ficaria ali, num canto,
junto com outros carros velhos.
Seria polido pelo jardineiro
e o dono diria aos amigos, orgulhoso:
-“Comprei este agora....é uma raridade!”.
Mas, um dia,
aconteceu o inusitado.
O veículo adquiriu alma nova,
disparou, perdeu o controle,
catapultou o piloto,
delirou, foi borboleta, beija-flor,
foguete, nave espacial.
Desembestou pela estrada,
ultrapassou todos os sinais,
fez cavalo de pau,
foi perseguido pela polícia,
atropelou muita gente,
uma tragédia!
E não havia ninguém no mundo
que lhe pusesse o pé no freio
ou desse marcha- a- ré.
Capotou, virou frangalhos,
Pedaços choveram em todas as direções.
Acabou num ferro velho,
De onde um escultor louco o resgatou.
Conserta dali, acrescenta aqui,
fez dele um monumento
à inconseqüência humana.