Sou homem e sou homossexual
Imaginem aquele menino delicado e mais sensível na escola, ou a menina mais agressiva. Seus comportamentos levam a atitudes discriminadoras, ele é chamado de ‘bicha”.
Isolamento, sofrimento, rejeição fazem parte de sua vida desde o início.
Existe uma expectativa cultural da expressão do comportamento masculino, do feminino, como também do homossexual. São, como poderíamos chamar, de estereótipos de gênero que mesmo os homossexuais, entre si, estão sujeitos.
A antropóloga americana Margareth Mead já destacava o peso da cultura na determinação dos papéis sexuais e das condutas e comportamentos de homens e mulheres. Imaginem então para aquele jovem, ao sentir os seus primeiros impulsos homossexuais, perceber a delicadeza de seu comportamento marcá-lo como um clichê cultural a ser seguido por toda a vida, com a discriminação, o medo e a negação fazendo os seus estragos. Ele não pode ser o que sente que é nem deixar de ser o que é.
Poderia ser diferente?
Hoje já estamos na quarta etapa da relação á homossexualidade. Vemos homens muito mais seguros, que se recusam a representarem um clichê social.
O homossexual quer ser reconhecido pela sua integridade e não mais pelos estereótipos de gênero. Ou seja, eles não querem mais as expectativas comportamentais que definem uma forma de ser convencional.
São homossexuais e isso não está estampado em sua fala, em sua roupa, em seu caminhar, em sua profissão, em sua determinação. Nem por isso escondem sua homossexualidade, também só às vezes a revelam, afinal, só a eles pertence.
Esse novo homossexual tem novas formas de encarar a sua realidade. Acha a Parada Gay contrária aos interesses dos homossexuais, pois apenas divulga o estereótipo e não a normalidade.
Durante uma sessão perguntei ao meu cliente porque então ele considerava que existia a necessidade da manutenção de tantos clichês cercando o comportamento homossexual, que é uma constante na mídia, na cultura e em nossa sociedade. Sua resposta me fez refletir.
-“Doutora, no momento que todos me vêem como homem, eu ajo como homem e sou homossexual. O não homossexual fica inseguro quanto a sua própria sexualidade, pois hoje a lei o obriga a me aceitar, mas que eu seja então como um palhaço, fantasiado, algo que ele nunca seria e que não o ameace”.
Psicóloga Ana Suruagy Botto